sexta-feira, 24 de abril de 2009

614


Às vezes, eu estou sozinho debaixo do meu cobertor quando volto do turno da usina. Volto cansado, esgotado, o corpo pesa sob as muitas horas sem dormir. Às vezes, até tenho vontade de chorar. Dizem que deixa a alma mais leve... a usina me deprime, ainda bem que eu tenho meu rádio.

eu não sou daqui...


eu estou aqui.

612





A gente precisa inventar alguma coisa pra poder levantar da cama, caminhar por aí, lavar os pratos, banhar o corpo e acreditar que tudo vai ser diferente. A gente precisa inventar alguma coisa quer ela exista ou não

moralista de merda


“Vaidade das vaidades”, diz o Eclesiastes, “vaidade das vaidades!”
“Tudo é vaidade! A vista não se farta de ver, o ouvido nunca se sacia de ouvir. O que foi é o que será: o que acontece é o que há de acontecer. Não há nada de novo debaixo do sol. Não há memória do que é antigo, e nossos descendentes não deixarão memória junto daqueles que virão depois deles. Apliquei o meu espírito a um estudo atencioso e à sábia observação de tudo que se passa debaixo dos céus: Deus impôs aos homens esta ocupação ingrata. Vi tudo o que se faz debaixo do sol, e eis: tudo vaidade, e vento que passa.”
“Eis que meu espírito estudou muito a sabedoria e a ciência, e apliquei o meu espírito ao discernimento da sabedoria, da loucura e da tolice. Mas cheguei à conclusão de que isso também é vaidade, é vento que passa.”
“Porque no acúmulo de sabedoria, acumula-se tristeza, e o que aumenta a ciência, aumenta a dor.” (Pára a Nona Sinfonia.)


abandonada por você



CadÊ? Aonde ?Cadê os donos da verdade? Da felicidade, da moral dos falsos costumes, da melhor conduta, do melhor way of life, da justiça, da conveniência??ARRE! Estou farta de semideuses!!!Arre! A essa altura do campeonato? Ditando felicidade? Felicidade de quem? A minha? A dele? A dela?Arre!Estou farta de caminho plagiado.Plágio!! Plágio!!Que tenho eu a ver com isso? Não tenho nada a ver com isso! Nada! Nada! Nada! Absolutamente nada. Essa vida não me pertenceNão quero essa vida pra mimEu tenho a minha dor e minha alegriaE não bebo a mesma dose que vocêsEu tenho a minha medida.Eu tenho a minha medida.

a moça da padaria...


Te recuerdo, Amanda,la calle mojada,corriendo a la fábricadonde trabajaba Manuel.
La sonrisa ancha,la lluvia en el pelo,no importaba nada,ibas a encontarte con él.
Con él, con él, con él, con él.Son cinco minutos. La vida es eterna en cinco minutos. Suena la sirena. De vuelta al trabajoy tœ caminando lo iluminas todo,los cinco minutos te hacen florecer.
Te recuerdo, Amanda,la calle mojadacorriendo a la fábricadonde trabajaba Manuel.
La sonrisa ancha,la lluvia en el pelo,no importaba nadaibas a encontrarte con él.
Con él, con él, con él, con él. que partió a la sierra,que nunca hizo daño. Que partió a la sierra,y en cinco minutos quedó destrozado.Suena la sirena, de vuelta al trabajomuchos no volvieron, tampoco Manuel.
Te recuerdo, Amanda, la calle mojada,corriendo a la fábricadonde trabajaba Manuel. (Vitor Jara)

615




Se um dia eu me matar. Jogando o secador elétrico na banheira, cortando os pulsos, tomando veneno mortal, se jogando do Acaiaca e cair em pleno cruzamento estatelada, pulando no fosso do metrô, puxando a arcada superior pra cima e a inferior pra baixo, assim. Seria cômico... Existe uma bigorna que amarrei no teto. Amarrada por uma corda que está sendo queimada por uma vela, que aos poucos vai desfazendo-a enquanto saboreio os últimos momentos de minha vida cruel, antes que o pedaço de aço maciço comprima minha cabeça contra mim mesma. O vento que entra da janela vai apagar a vela inúmeras vezes. No vai e vem pra reascender a vela, a campainha vai tocar, e neste exato momento a bigorna vai cair, atravessar o chão do meu apartamento, e matar a velhinha do andar de baixo.