sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Numa dessas noites de domingo, onde quase nada acontece, uma das portas de um corredor escuro começa a exalar um cheiro de gente morta.
O cheiro faz com que os outros saiam de suas portas, articulem as devidas providências e tentem desvendar o que teria acontecido.
No entanto, todas as tentativas são em vão. A morte faz com que nesse momento coletivo, as relações se estabeleçam pela primeira vez. O odor que vai aumentando faz emergir um mundo de seres que não se conhecem, mas que habitam o mesmo lugar. Cada qual preocupado, na verdade, com seu próprio mundo, com seus próprios medos, com suas próprias questões. Superfície de portas que estão sempre trancadas. Os personagens vão deixando escapar suas fragilidades, diante desse fato estranho que traz à tona suas solidões eminentes.
Essa é a forma pela qual a peça mergulha no ser humano que se contradiz diante dos inúmeros caminhos que o cercam. No lado interno, a solidão e a memória; no externo, um coletivo obrigado a se relacionar por um fato inesperado. Podemos perceber em Por esta porta estar fechada, as outras tiveram que se abrir uma escrita em processo em que os discursos da memória não estão acabados, mas sim, em construção.
Apenas uma noite para cada um abrir aos poucos sua porta, e deixar que seus mundos também se espalhem. O encontro é difícil. Impressões vão sendo deixadas aos poucos. Pedaços vão ficando em cada canto e se agregando em forma de cidade.
Por esta porta estar fechada, as outras tiveram que se abrir, traz a morte para fazer uma reflexão sobre a vida. Parte do inesperado, para tratar justamente das esperas que vão sendo tecidas por entre a metrópole em vias, o vazio de tantos discursos e as urgências que nos apequenam sempre.
Por que você não se mata? È a pergunta que cada personagem tenta responder, a partir do convite que o Grupo de Teatro Mayombe faz, para essa noite estranha, com pessoas sozinhas e suas portas.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

614


Às vezes, eu estou sozinho debaixo do meu cobertor quando volto do turno da usina. Volto cansado, esgotado, o corpo pesa sob as muitas horas sem dormir. Às vezes, até tenho vontade de chorar. Dizem que deixa a alma mais leve... a usina me deprime, ainda bem que eu tenho meu rádio.

eu não sou daqui...


eu estou aqui.

612





A gente precisa inventar alguma coisa pra poder levantar da cama, caminhar por aí, lavar os pratos, banhar o corpo e acreditar que tudo vai ser diferente. A gente precisa inventar alguma coisa quer ela exista ou não

moralista de merda


“Vaidade das vaidades”, diz o Eclesiastes, “vaidade das vaidades!”
“Tudo é vaidade! A vista não se farta de ver, o ouvido nunca se sacia de ouvir. O que foi é o que será: o que acontece é o que há de acontecer. Não há nada de novo debaixo do sol. Não há memória do que é antigo, e nossos descendentes não deixarão memória junto daqueles que virão depois deles. Apliquei o meu espírito a um estudo atencioso e à sábia observação de tudo que se passa debaixo dos céus: Deus impôs aos homens esta ocupação ingrata. Vi tudo o que se faz debaixo do sol, e eis: tudo vaidade, e vento que passa.”
“Eis que meu espírito estudou muito a sabedoria e a ciência, e apliquei o meu espírito ao discernimento da sabedoria, da loucura e da tolice. Mas cheguei à conclusão de que isso também é vaidade, é vento que passa.”
“Porque no acúmulo de sabedoria, acumula-se tristeza, e o que aumenta a ciência, aumenta a dor.” (Pára a Nona Sinfonia.)