terça-feira, 16 de novembro de 2010

Numa dessas noites de domingo, onde quase nada acontece, uma das portas de um corredor escuro começa a exalar um cheiro de gente morta.
O cheiro faz com que os outros saiam de suas portas, articulem as devidas providências e tentem desvendar o que teria acontecido.
No entanto, todas as tentativas são em vão. A morte faz com que nesse momento coletivo, as relações se estabeleçam pela primeira vez. O odor que vai aumentando faz emergir um mundo de seres que não se conhecem, mas que habitam o mesmo lugar. Cada qual preocupado, na verdade, com seu próprio mundo, com seus próprios medos, com suas próprias questões. Superfície de portas que estão sempre trancadas. Os personagens vão deixando escapar suas fragilidades, diante desse fato estranho que traz à tona suas solidões eminentes.
Essa é a forma pela qual a peça mergulha no ser humano que se contradiz diante dos inúmeros caminhos que o cercam. No lado interno, a solidão e a memória; no externo, um coletivo obrigado a se relacionar por um fato inesperado. Podemos perceber em Por esta porta estar fechada, as outras tiveram que se abrir uma escrita em processo em que os discursos da memória não estão acabados, mas sim, em construção.
Apenas uma noite para cada um abrir aos poucos sua porta, e deixar que seus mundos também se espalhem. O encontro é difícil. Impressões vão sendo deixadas aos poucos. Pedaços vão ficando em cada canto e se agregando em forma de cidade.
Por esta porta estar fechada, as outras tiveram que se abrir, traz a morte para fazer uma reflexão sobre a vida. Parte do inesperado, para tratar justamente das esperas que vão sendo tecidas por entre a metrópole em vias, o vazio de tantos discursos e as urgências que nos apequenam sempre.
Por que você não se mata? È a pergunta que cada personagem tenta responder, a partir do convite que o Grupo de Teatro Mayombe faz, para essa noite estranha, com pessoas sozinhas e suas portas.

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